O dono de uma corretora de grãos é investigado pela Polícia Civil suspeito de aplicar golpes em produtores e empresas do agronegócio de Rio Verde, no sudoeste de Goiás. Somado, o prejuízo de todas as vítimas é de cerca de R$ 30 milhões, mas se outros contratos não forem cumpridos dentro do prazo, o valor pode chegar a R$ 400 milhões. Entenda abaixo como ele agia.
Os advogados Alessandro Gil e Danilo Marques, que representam a defesa do corretor, negaram que o cliente teria dado o golpe de R$ 400 milhões em produtores e empresas do agronegócio. Além disso, disseram que o corretor não permaneceu na cidade por estar preocupado com a segurança da sua família. Afirmaram ainda que se colocou à disposição para ser ouvido pelas autoridades de forma "telepresencial" (veja a nota completa ao final da reportagem).
A corretora do suspeito atua na região há cerca de 6 anos e, por isso, era vista como confiável no mercado. Segundo a polícia, o homem fazia contratos e até dava cheques com prazos como forma de garantia. Depois, recebia os grãos, mas não fazia o pagamento combinado, causando prejuízo às vítimas.
Em novembro do ano passado, um boletim de ocorrência foi registrado em nome de uma empresa contra o corretor. Um funcionário contou ter feito uma negociação pelo WhatsApp de 12,5 mil sacas de soja para vender, ficando fechado o valor de R$ 1,4 milhão.
O valor foi pago pela empresa, mas o funcionário disse que eles não conseguiram retirar com o suspeito os grãos negociados. As tais sacas, segundo a ocorrência, estariam em um armazém em Amorinópolis, no oeste goiano.
Nove denúncias
Até o início da tarde de sexta-feira (20), nove pessoas procuraram a delegacia para denunciar o corretor por situações semelhantes. O delegado responsável pela investigação, Márcio Henrique Marques de Souza, disse que todas elas firmaram contratos com o suspeito, que desapareceu sem cumprir com os acordos dentro do prazo.
“A partir do momento em que os contratos foram vencendo, o investigado passou a dar desculpas, pedir mais prazo, até que culminou no seu desaparecimento”, afirmou o delegado.
Todas as pessoas que procuraram a delegacia, segundo o delegado, estão com seus contratos firmados com o suspeito vencidos. Se somados, os prejuízos de todas essas pessoas chegam a R$ 30 milhões.
Há também contratos firmados pelo corretor que ainda não venceram o prazo. Caso esses também não sejam cumpridos, o valor do prejuízo pode chegar a R$ 400 milhões.
“Até agora, existem contratos que foram firmados pelo investigado que não venceram, são contratos com datas posteriores. A esses contratos, a gente ainda não pode definir como prática de um crime”, explicou o delegado.
'Vou pagar a todos'
À polícia, algumas vítimas disseram ter recebido um e-mail em nome do corretor, na manhã de quinta-feira (20). O texto diz que o suspeito faliu, causando prejuízos a "grandes amigos". Por conta disso, vinha sofrendo ameaças e estava impossibilitado de retornar a Rio Verde, mas que um dia voltaria para honrar com os pagamentos.
“Eu vou voltar um dia e honrar cada um de vocês e vou pagar a todos", diz o e-mail.
A Polícia Civil disse que investiga a veracidade do e-mail. Afirmou também que já tem a localização do suspeito e que está “tomando as medidas necessárias para garantir que ele não desapareça efetivamente”.
“É muito cedo pra gente saber e definir qual será o futuro das investigações e o que a gente vai conseguir levantar de ativos que foram supostamente desviados da vítima. É uma investigação extremamente complexa”, afirmou o delegado Márcio Henrique Marques.
Nota da defesa do corretor na íntegra:
"Nós, advogados Alessandro Gil Moraes Ribeiro e Danilo Marques Borges viemos por meio desta esclarecer alguns pontos sobre as recentes notícias veiculadas a respeito do nosso cliente.
Primeiramente, é importante ressaltar que os valores mencionados nas reportagens, especialmente no que se refere ao suposto golpe de R$ 400 milhões aplicado em produtores e empresas do agronegócio, não representam a verdade dos fatos.
Esclarecemos ainda que a questão em pauta trata-se de problemas inerentes a pagamentos de compra de grãos em decorrência de contratos futuros firmados, ou seja, promessas de pagamento, o que não caracteriza ilícito penal, devendo ser resolvida na esfera cível.
Em decorrência da pressão de credores e de se sentir ameaçado, o senhor não permaneceu na cidade, estando preocupado com a segurança da sua família. No entanto, através de sua defesa, que já se reuniu com a autoridade policial, ele se colocou à disposição para ser ouvido de forma telepresencial. Ele pretende, desta forma, comparecer a todos os atos policiais e judiciais necessários, salientando ainda que deixou na cidade seu patrimônio para garantir pagamentos e negociações futuras com credores.
Reiteramos nosso compromisso com a justiça e com a defesa dos direitos do nosso cliente, sempre pautados pela ética e pela legalidade."
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